A maior parte das equipas que disputam campeonatos distritais já está em competição. De entre estas, muitas das equipas de futebol 7 também já se encontram a jogar. Isto quer dizer que estamos numa fase em que “as coisas começam a apertar”. Escrevo isto no sentido em que este é um dos momentos em que o papel do treinador é muito importante no que se refere às suas escolhas e decisões quanto ao seu plantel, nomeadamente quando nos referimos à dualidade entre o atingir os objectivos vs gestão da utilização dos atletas. Centro-me sobretudo no que diz respeito a duas situações: à definição dos 11 (ou 7) iniciais e depois à sempre difícil decisão das substituições no decorrer do jogo.

O que normalmente fazemos? Escolhemos o melhor 11 ou 7 inicial partindo do princípio que esses serão os que melhores garantias nos dão para atingir o(s) objectivo(s) para aquele jogo. Posso afirmar que esta é quase uma decisão universal e não tem muito que questionar. O que por vezes pode acontecer é que durante esse jogo nos esquecemos que para além dos objectivos estabelecidos para esse jogo em especial, também existem outros objectivos, poderemos chamá-los de gerais ou a longo prazo, que podendo não estar explícitos estão com todo a certeza implícitos naquela equipa/escalão.

Esta situação é mais grave quando estamos a restringir a nossa análise aos escalões mais novos, nomeadamente até aos infantis sub-13. Situando-me aí verifico, sem ser muito exaustivo na minha procura, que os treinadores, em função do decorrer do jogo e mais especificamente quando o resultado é negativo, esquecem que estão em equipas de formação com crianças e tomam decisões que naquele momento parecem ser as melhores, mas que por força das circunstâncias poderão não o ser quando a nossa visão é sobretudo a longo prazo.

Alguns exemplos concretos:

  • Quando a equipa do treinador está a perder por um golo de diferença, faltam 5 minutos para o término do jogo e este olha para o seu banco e tem lá um grupo de 4 atletas de qualidade superior, mas que já jogaram e um de qualidade inferior, mas que ainda não jogou. O que deve fazer? Opta pelo que ainda não jogou e este ficará contente pois poderá ter a oportunidade de jogar (nem que seja 5 minutos), mas a sua equipa poderá perder esse jogo por essa decisão ou, ao invés, opta por um dos colegas com melhor qualidade e poderá com isso ter mais probabilidade de ganhar sabendo, no entanto, que o que não jogou ficará triste e quiçá poderá até abandonar a equipa?
  • Quando a equipa do treinador está a ganhar pela margem mínima a 5 minutos do fim do jogo e para conservar esse resultado que lhe interessa não coloca o tal atleta menos dotado pois com essa decisão poderá o resultado inverter-se e, sendo assim, opta por manter a mesma equipa e não fazer as substituições.

Estas questões são mais prementes e evidentes no futebol 7 também porque aqui as substituições são ilimitadas pois nos escalões mais velhos os atletas já sabem que o treinador fará no máximo 3 ou 5 substituições e, dessa forma saberão à partida que poderão não jogar.

É minha opinião que, nestes casos e em outros similares em que as decisões dos treinadores são particularmente decisivas, é extremamente importante que os objectivos e as regras de utilização de atletas seja definido pelo próprio clube para todos os escalões e este deve ser soberano nas decisões pois é ele que deve ter definido os seus objectivos gerais para todos os escalões na presente época e nas seguintes. Ou seja, devem ser decisões da visão estratégica do clube. Quando estas não existem, o treinador será, à partida, soberano nas suas decisões, mas aqui deve pesar muito bem os dois pratos da balança, ou seja, deve tentar atingir os objectivos definidos, mas tendo em atenção que é preciso muito cuidado na gestão da utilização dos atletas em função desses objectivos. Para estas situações o que aconselho é de difícil execução mas possível: em qualquer momento do jogo, o treinador deve analisar muito bem as suas decisões confrontando os objectivos do jogo com os objectivos que pretende para a sua equipa/escalão no final da época.

Um aspecto que vem contribuir em muito para esta situação é o facto de, por vezes, se ir buscar muitos atletas a outros clubes para um só escalão, mas que depois não jogam e, perante isto, existe uma grande probabilidade de alguns desses atletas abandonarem o clube durante a época e depois questionamo-nos porque eles saem… Não é preciso fazer uma análise exaustiva para perceber que esses atletas estavam num clube em que jogavam muito tempo, mas foram para outro em que ou não jogam ou jogam muito pouco.

Renato Fernandes – Treinador e professor na ESDRM