“Os bons treinadores, se são de sucesso, diferenciam-se dos restantes devido à sua capacidade de comunicação” (Hotz, 1999). Já Richheimer e Rodrigues (2000) acrescentam que a “arte de saber comunicar pode ter influência no rendimento do atleta de uma forma positiva ou negativa”.

Isto tudo para dizer que um treinador pode saber tudo sobre metodologia, pode conhecer bastante sobre uma modalidade, pode ser exímio na observação do jogo, mas o sucesso da sua actuação está dependente da comunicação estabelecida com os jogadores da sua equipa. Talvez por isso é que a intervenção do treinador em competição é tão importante, mas nem sempre valorizada por jogadores, dirigentes, adeptos e jornalistas.

Vários autores defendem que os treinadores devem permanecer calmos a fim de tomar as decisões de forma mais eficaz. Mas será que um treinador que esteja com altos índices de adrenalina não pode também tomar decisões acertadas?

Neste texto, não vou falar tanto sobre o conteúdo da informação dada por um treinador durante a competição aos seus jogadores, mas sim na forma. Nesse ponto de vista, distingo dois tipos de treinadores: uns mais exuberantes na sua forma de comunicar, sendo exemplos disso mesmo Marco Simeone, Pepe Guardiola ou Jorge Jesus, e outros mais calmos e serenos como são os casos de Luis Enrique, Carlo Ancelotti, Del Bosque ou Rui Vitória.

Em ambas as formas de comunicar, que à primeira vista até parecem antagónicas, há vantagens e desvantagens. Pegando no exemplo dos técnicos portugueses (Rui Vitória e Jorge Jesus) as diferenças são evidentes, mas será uma melhor que a outra?

Começando por Rui Vitória, o treinador do Benfica opta por uma comunicação cujo lema é “liberdade com responsabilidade”. Ou seja, este tipo de comunicação pressupõe que todo o trabalho de preparação técnico-táctica, de metodologia e de comunicação é feito durante a semana que antecede os jogos. Por isso, o papel do treinador durante as partidas é o de um observador cuja função é ir fazendo pequenas rectificações e correcções àquilo que foi delineado anteriormente, articulando o uso adequado dos estilos de liderança, o saber ouvir e a capacidade de elogiar e repreender com critério. Mas também sem esquecer que, para além da comunicação verbal, está a comunicação não verbal.

Este estilo tem a grande vantagem de não “saturar” os jogadores com excesso de informação e de criar um clima mais calmo e sereno em redor da equipa. Contudo, o revés da medalha está ligado precisamente ao lema “liberdade com responsabilidade”. Não tendo jogadores focados num objectivo e com inteligência para tomar as suas próprias decisões de forma positiva, essa liberdade pode transformar-se em irresponsabilidade e, portanto, num caos.

Comparativamente com o estilo de comunicar de Jorge Jesus é notório que é um treinador que consegue o rendimento máximo dos seus atletas desde que os mesmos confiem e acreditem na sua liderança. Nesse sentido, é importante criar logo no início uma empatia de modo a que o treinador seja visto como líder para que os atletas confiem e sigam as suas instruções, mas não um líder que se impõe pela autoridade, mas sim pelo respeito que conquista com as suas acções.

Durante os jogos, Jorge Jesus ‘massacra’ os seus jogadores com informação. Este estilo tem a vantagem de obrigar os jogadores a estarem constantemente sintonizados com as ideias do treinador, activos e focados na sua função. É um estilo que apela à adrenalina de todos os intervenientes do jogo, à exigência máxima, à constante confrontação com situações de jogo específicas que obrigam os jogadores a estarem em constante alerta. É um estilo que, se treinador e jogadores estiverem em sintonia, é muito difícil de derrotar.

Contudo, também há desvantagens. Desde logo pela sobrecarga de informação que os jogadores estão sujeitos. Mas principalmente, porque este estilo de comunicação depende muito do contexto. Se a equipa viver um contexto vitorioso, os jogadores terão mais capacidade de encaixe em relação ao líder. Se o contexto não for esse, há mais espaço para a confrontação e choque de ideias. A final da Taça em que Cardozo confrontou Jorge Jesus é exemplo disso mesmo, numa semana em que o Benfica perdeu duas finais.

Em suma, tendo em conta que a intervenção do treinador durante a competição em seniores é predominantemente psicológica, ambos os estilos de comunicar têm vantagens e desvantagens, mas tudo depende do tipo de jogadores que tiver ao seu dispor. Num plantel há múltiplas personalidades e o treinador deve moldar a sua forma de comunicar em consonância com essas maneiras diferentes de reagir à informação.

Texto: José Roque – Jornalista