Estamos agora a chegar a uma fase que, na minha opinião, em algumas equipas não é fácil gerir o seu processo de treino. Essa “fase” não é nada mais que o aproximar do final da época e o consequente cansaço em alguns atletas. Mas pergunto: será mesmo cansaço? Não será antes uma perda de objetivos ou para talvez ser mais polémico, uma indefinição de objetivos?

O que se passa em algumas equipas é que chegado a este momento denota-se uma quebra no rendimento geral da equipa que, por vezes, se torna mais evidente em treino. É vulgar nesta altura encontrar equipas em que os seus jogadores por vezes estão mais lentos nas suas ações, mais desconcentrados, menos focados na tarefa, até mesmo mais brincalhões. A acrescentar a isso, é também evidente que alguns atletas passam a faltar mais ou a chegar mais vezes atrasados sendo em certos casos até os mais assíduos e pontuais.

Perante estes factos, os treinadores por vezes atribuem a causa ao cansaço do final da época. Pessoalmente já assisti a vários treinadores a insistirem na vulgar e imediata atribuição causal “(…) isto é tudo cansaço porque já estamos com 8 meses de treinos…” perante situações que, se fossem sujeitas a uma análise mais pormenorizada, provavelmente não seria essa a causa. Interessante é que muitos de nós até atribuíamos a causa a um fenómeno que, em muitos casos, nem sequer sabíamos o que era: o “cansaço mental”. Qualquer coisa como: “O meu atleta não tem treinado muito bem e anda a falhar muitos passes e fintas porque nesta altura ele costuma ficar cansado mentalmente…”. Penso este ser um tema tão específico que poderemos falar numa próxima abordagem.

Voltando ao tema, nas situações referidas anteriormente, eu também contra mim falo pois em algumas ocasiões no passado acabei por ter a mesma reação mas por uma razão muito simples: era a mais fácil. Penso agora que não o deveria ter feito porque provavelmente os objetivos da equipa e dos próprios atletas, definidos em local e momento próprios, ou não foram atingidos, ou pelo contrário, já o foram e aspetos como o envolvimento no treino, a atitude competitiva, a motivação e talvez o mais importante que é o sentir prazer a treinar, deixaram de existir.

Aqui, o papel do treinador é mais uma vez fulcral. É ele que, antes mesmo de serem definidos os objetivos da equipa/escalão ou mesmo individuais, deve pensar a longo prazo e ponderar vários cenários:

  • Definir objetivos classificativos e outros também que poderemos definir de competitivos que, mesmo que os primeiros venham a ser concretizados muito antes da época terminar, os segundos irão manter a equipa focada e motivada no treino;
  • Definir objetivos classificativos realistas para que chegados a este momento da época e na perspetiva de não os conseguir atingir, conseguirá ainda assim manter a equipa em níveis de performance elevados;
  • Se definir somente objetivos classificativos e estes sendo atingidos muito cedo deve o treinador refletir e analisar muito bem os seus atletas e a equipa no seu todo no sentido de redefinir objetivos mantendo-os numa atitude competitiva que os leve a melhorar a sua performance individual e coletiva. Penso que este cenário é aquele que mais exige do treinador, mas também será com certeza o mais desafiante.

Renato Fernandes – Treinador da equipa sénior feminina do A-dos-Francos e professor na Escola Superior de Desporto de Rio Maior