As condições e características de vida das famílias e a forma de gestão dos tempos livres têm vindo a sofrer uma grande mudança, no que diz respeito à mobilidade social, diversidade cultural, hábitos e rotinas de vida, sedentarismo corporal, concentração urbana, e muitas outras que levam à alteração dos estilos de vida do homem e em particular das crianças e dos jovens.

A identificação dos obstáculos ao desenvolvimento da cultura lúdica de acordo com uma abordagem ecológica tendo em atenção a relação entre o espaço/tempo disponível para o jogo em função das rotinas de vida das famílias tem sido uma grande preocupação dos investigadores, como por exemplo o leiriense, Carlos Neto. Num dos seus estudos ele questionou cerca de 2000 agregados familiares sobre a vida regular dos filhos, atendendo a gestão do tempo, espaços de ação, tipo de atividades e percursos mais comuns (escolar, familiar e outros contextos sociais) de acordo com a idade, sexo, classe social e estrutura parental. Os resultados demostraram situações preocupantes e surpreendentes, quanto: às relações entre jogo e qualidade de vida; aos valores lúdicos e contextos ecológicos de ação; às dinâmicas entre práticas lúdicas e desportivas realizadas e preferidas. A transformação dos hábitos lúdicos e desportivos das populações mais jovens, tem vindo a ocorrer de forma diversificada e complexa, implicando com certa urgência uma análise precisa e rigorosa do fenómeno do ponto de vista sociológico, cultural e politico, afirma Carlos neto em seu estudo.

Por estas razões os jogos desportivos são fundamentais na aquisição de uma melhor relação do corpo da criança com o espaço, contribuindo assim para o ensino do auto controlo corporal e da mobilidade. Antigamente as famílias conviviam nos seus espaços, as crianças vizinhas umas das outras exploravam o seu corpo com a liberdade necessária para uma ótima aprendizagem, hoje o professor/treinador tem de proporcionar esses espaços aos seus atletas, pois sem ele toda a aprendizagem mais específica estará em causa. As crianças têm que aprender a saltar, a cair, a agarrar, a puxar, a subir, a descer e só depois podem partir para os conceitos mais específicos do jogo, da modalidade.

Srs. Treinadores e professores não queiram uma especialização demasiado precoce, pois isso só vai levar a um desenvolvimento e aprendizagem desequilibrada. Usem os jogos pré-desportivos para trabalhar estas capacidades importantes para as futuras aprendizagens.

Ricardo Cardoso – Psicólogo