Passo a passo, o Caldas SC já surpreendeu tudo e todos na Taça de Portugal. A equipa do Campeonato de Portugal conta apenas com jogadores amadores no plantel mas já deixou pelo caminho duas equipas da Ledman LigaPro – Arouca e Académica – e chegou aos quartos de final. Agora com o Farense como próximo adversário, a ambição de estar entre os quatro semi-finalistas está viva, mas também há diferenças claras entre as duas equipas, embora ambas atuem no mesmo escalão.
«O Farense não é uma equipa amadora, tem jogadores experientes e lidera a sua própria série. Com todo o respeito pela Académica e pelo Arouca, não vejo que haja agora mais hipóteses de o Caldas passar. Agora, claro, nunca iremos entregar o jogo, porque é apanágio destes atletas e desta equipa técnica lutar até ao fim», realça Jorge Reis, presidente do clube caldense, em conversa com o zerozero.
Discurso semelhante tem José Vala, treinador da equipa: «Chegámos até aqui, o Caldas nos últimos dois anos já tem feito percursos interessantes na Taça de Portugal, mas este ano está a superar todas as expectativas. Não vou dizer que estávamos à espera disto, porque não estávamos. Mas já que estamos aqui e vamos apanhar um adversário do nosso campeonato… tem diferenças, é profissional e luta para subir de divisão, mas nós temos as nossas possibilidades e imaginamo-nos a meter mais dois dias de férias para a meia-final a duas mãos».
Dias de férias? A explicação é simples. Sendo um clube não-profissional – o único ainda em prova na Taça -, o Caldas tem uma realidade particular. Os jogadores, os treinadores e até os dirigentes têm os seus empregos e além de jogarem nos relvados jogam com os horários e calendários para poderem entrar em campo nos compromissos do clube. Não é tarefa fácil, e mais difícil se torna numa situação como esta que se avizinha: o encontro com o Farense joga-se a uma quarta-feira ao fim da tarde, três dias depois de o Caldas jogar na ilha Graciosa (Açores) para o Campeonato de Portugal.
Inicialmente, o jogo da Taça estava até marcado para as 15h00. Passou entretanto para as 18h00. Jorge Reis diz que o clube «não ganhou a guerra mas ganhou uma batalha» e lamenta, no geral, a abordagem da Federação Portuguesa de Futebol na calendarização do encontro.
«É uma prova organizada pela Federação que, apesar de ter equipas profissionais de futebol, não é uma prova profissional. As competições profissionais são a Primeira Liga, a Segunda Liga e a Taça CTT. Logo à partida a FPF deveria ter o cuidado de que as eliminatórias não fossem à quarta-feira. Baseio-me na questão de que os nossos atletas são amadores, todos eles. Uns trabalham, outros estudam. Os treinadores também, assim como os diretores. Isto é preocupante porque não houve esse cuidado», defende o presidente.
A surpresa relacionada com a presença de uma equipa não-profissional nesta fase é, também, vista pelo treinador como a razão para o contexto difícil do jogo.
«É lógico que o que se nota nesta calendarização é que ninguém estava à espera que um clube como o Caldas chegasse tão longe», indica José Vala. «O Caldas está inserido numa competição amadora, e não é o Caldas que está mal por ser um clube amador. Sabemos que existem na nossa competição clubes profissionais, mas a nossa Liga não é profissional. Nós treinamos ao fim do dia, os jogadores trabalham, a equipa técnica trabalha. É lógico que jogar à quarta-feira é complicado. Não se teve em conta isso. Acho estranho, a Taça é a segunda maior competição de Portugal e acho que até estão a dar mais valor à Taça da Liga, com jogos ao fim-de-semana. Vendo a nossa realidade, e a logística que estamos a preparar para jogar à quarta-feira, com jogadores a meterem dias de férias, treinadores a meterem dias de férias… não é fácil. Iremos lá estar, com a nossa força toda, mas não é fácil».
A situação implica também compreensão da parte das entidades empregadoras, e nem sempre é possível chegar a um acordo. É uma situação que o clube está, sempre, obrigado a gerir.
«Temos um caso de um jogador que já não vai aos Açores porque só tem direito a meter dois dias de folga. Já tinha metido o dia 1 que era obrigatório para todos e agora para ir aos Açores tinha de meter dois e não conseguiu. De resto, espero que toda a gente consiga mais ou menos orientar-se. O jogo [com o Farense] passou para as 18h00, provavelmente teremos um ou outro a ir trabalhar de manhã, mas estarão lá todos a jogar, espero eu», indica o técnico.
«É a nossa realidade, é o que temos gerido nos últimos anos. Acho que não é o Caldas que está mal, está inserido numa competição que se diz amadora. Se a FPF quer criar uma terceira divisão profissional que o faça, e o Caldas sem condições não participará nela com certeza. Uma vez que estamos inseridos numa Liga amadora devia ser tudo mais ou menos idêntico e não é. Não é na Taça de Portugal e não é no Campeonato», prossegue José Vala.
Três dias entre um jogo e outro, com uma difícil viagem da ilha Graciosa ao continente, com obrigatória passagem pela ilha Terceira por força das ligações aéreas. Perante este contexto, como será a preparação para o encontro de «mata-mata» na Taça?
«Chegamos a casa lá para as duas e meia, três horas da manhã de segunda-feira. Muitos de nós têm que ir trabalhar. Depois vão ter que treinar no final do dia. A terça-feira, que seria o dia de descanso, não o vai poder ser, mas também não podemos ter um treino muito intensivo com o jogo na quarta-feira. Haverá pouco tempo para a recuperação, e ainda mais para a preparação do jogo seguinte. Qualquer pessoa vê uma questão destas», realça o presidente, enquanto o treinador demonstra reservas no que toca à pontualidade do regresso às Caldas da Rainha.
«Para já, o tempo parece que se vai agravar na vinda. Esperamos não ter problemas, sabemos que os voos das ligações entre as ilhas são os primeiros a ser cancelados, esperamos não ter problemas. Se correr tudo dentro da normalidade chegaremos na madrugada de domingo para segunda. Os jogadores vão trabalhar, uns vão levantar-se às 7 da manhã, eu vou levantar-me às 7 da manhã e mais tarde teremos um treino de descompressão. Na terça-feira faremos um treino mais tarde, analisando algumas coisas do Farense, que é um trabalho que já está a ser feito pela equipa técnica. Dentro da normalidade vamos tentar fazer o melhor possível».
Por Gaspar Castro – Zero Zero