Experiência
Sérgio e Manuel jogaram futebol profissional. Terminada a carreira, encontraram no distrital o caminho para ensinar o que sabem de uma arte que “é igual em todo o lado”
Jogaram mais de 15 anos, enfrentaram os maiores clubes nacionais e experimentaram os sabores de jogar na principal liga de futebol nacional e as agruras de descer de divisão. Sérgio e Manuel têm mais em comum: além do apelido – Lavos – os dois jogaram vários anos em clubes madeirenses (União da Madeira e Camacha, respetivamente), tiveram Manuel Cajuda como treinador (um no Belenenses, outro na União de Leiria) e defrontaram-se num jogo da Liga, na época de 1994/95.
Há mais um elemento em comum: os dois ex-jogadores formam atualmente a equipa técnica do Outeirense, que atua na I divisão distrital.
Há diferenças para o futebol profissional? “O futebol é igual, joga-se da mesma forma”, explica Sérgio Lavos, que orienta a equipa pela terceira época, depois de experiências como adjunto do conterrâneo José Dinis no Varzim e no Lusitânia (Açores), e nos juniores do Sport Lisboa e Marinha.
Já Manuel Lavos, ex-guarda-redes, chegou ao Outeirense por convite. “Trouxe um know how e uma qualidade [ao treino de guarda-redes] que até então não tínhamos”, conta Sérgio Lavos, de 44 anos, natural da Praia da Vieira.
A dimensão do futebol distrital, na sua opinião, não se compara à das competições profissionais. “Esta é a última divisão, é o fundo da tabela. Logo a exigência para quem faz um hobie é diferente de quem é profissional. Os ritmos são diferentes, as infraestruturas também, mas o treino e o jogo são iguais. É futebol”, defende.
A dupla, acompanhada por Rui Jorge, está satisfeita com os resultados. Quer subir à Honra e sabe que vai “chatear muitas equipas”. “Não é pera doce jogar no Campo das Camarneiras”, diz. No ano passado, apenas perderam dois jogos no campeonato e a subida à honra foi travada em grandes penalidades. “Estamos cá para fazer o nosso papel e vamos jogar dessa forma, para ganhar”, diz o técnico.
O Clube “Os Democratas” Recreativo Outeirense nasceu após o 25 de abril de 1974. Dois homens da terra desafiaram um outro que passava no lugar, para nivelar um terreno baldio, com camarneiras, a troco de cinco contos. O desafio pegou e nasceu o campo onde atualmente joga a equipa.
Uma comissão administrativa deu força ao projeto e um emigrante da terra, residente no Brasil, ofereceu 100 contos a troco da expressão “Os Democratas” no nome do clube.
Heleno Dinis recorda-se desses tempos. Está na direção do Outeirense desde 1980. Já foi presidente, tesoureiro e orgulha-se de ter ajudado a construir, literalmente, a sede do clube. Ele e muitos dos atuais dirigentes. “Costumo dizer que é o meu filho mais velho. Dia em que não venha ao clube, a minha mulher estranha”, afirma.
O mesmo acontece com Paulo Coelho. Há cinco anos que ocupa o lugar de presidente da direção. Faz um balanço positivo e está satisfeito por ter avançado com a construção do sintético. Faltam pagar cerca de 30 mil euros.
Com equipa federada desde 1979, o clube só aposta na constituição da equipa sénior e não sabe como vai ser o amanhã. “Da maneira como isto está, é muito complicado perceber como vamos sair disto. Todos os anos as despesas aumentam. O nosso trabalho é importante, contribuímos para a sociedade e levamos o nome da terra mais além”, afirma o presidente que, antes de abandonar a direção, gostava de ganhar uma Taça do Distrito de Leiria, em pleno estádio municipal. “Nunca ganhámos nenhuma. Gostava de chegar ao estádio e vencer. Acho que era um marco importante para o clube”, acrescenta.
Dia 17, o clube assinala 35 anos que serão celebrados num jantar convívio, dia 21, com jogadores, diretores e família.
Texto – Marina Guerra
Foto – Joaquim Dâmaso