Dado o elevado número de pessoas que questionam qual a importância da fisioterapia no desporto, decidi abordar este tema de uma perspectiva diferente. Creio que se falar como fisioterapeuta vão achar que vou sempre referir que é uma área da saúde extremamente importante, por questões de empregabilidade ou valorização da profissão/licenciatura. Então partilho a minha experiência enquanto ex-atleta.

Quando uma lesão ocorre durante um treino ou competição e o clube não dispõe de um fisioterapeuta, primeiro não temos a noção dos procedimentos que devemos tomar: ‘Faço gelo ou calor? Isto é grave, devo ir ao médico? Faço repouso ou contínuo a treinar? Esta dor vai passar em breve? Quanto tempo?’. Depois há a necessidade de sermos vistos/avaliados.

Há seguro desportivo ou a necessidade de o activar? Não. Então, marcar consulta com o médico de família. Vagas? Dentro de quatro, cinco dias? Uma semana? Ok. O médico passou exames complementares de diagnóstico. Marcar exames. Posteriormente a espera pelos resultados. Novamente consulta com o médico. Necessidade de fisioterapia? Se a resposta for um sim, necessidade de esperar pela credencial/autorização. Marcação das sessões de fisioterapia (normalmente 10 a 15 sessões prescritas no público). E com isto, já passaram quatro, cinco, seis semanas? Perdemos o ritmo da equipa, a nossa preparação física, a motivação. É quase que um começar do zero.

Há seguro desportivo? Sim. Reunir papelada. Enviar para activação do seguro. Esperar para ser chamado a consulta do médico. Posteriormente prescrição de fisioterapia. Mais rápido? Sim, mas creio que haja muita gente que não tem a noção dos elevados custos da activação do seguro, podendo chegar a centenas de euros. E caso a lesão tenha sido simples, será que existiria mesmo a necessidade de activar?

Falo na dimensão de um jogador. Mas caso o clube tenha 100 ou 200 jogadores, podemos reverter esta situação para 20, 30, 40 lesões por ano sendo que por exemplo, as lesões traumáticas (impactos, quedas, choque entre jogadores, etc.) são imprevisíveis e impossíveis de prevenir no futebol.

foto texto carla

Um fisioterapeuta em campo (no momento de treino e/ou competição) assume a lesão de imediato, impedindo muitas vezes o seu agravamento e evolução, aplicando técnicas e métodos de reabilitação capazes de recuperar o jogador e permitir que este retome rapidamente a actividade desportiva.

Outra função indispensável é a de reeducar o jogador e prepará-lo quando o mesmo ainda faz parte das camadas jovens. O fisioterapeuta tem condições para corrigir nestes jogadores de escalões infanto-juvenis, possíveis deformidades, gestos técnicos que ocasionam lesões e não trazem vantagem mecânica, assimetrias significativas e lesões de crescimento que, no fundo, afastariam o jogador da actividade ou prejudicariam futuramente o desempenho do mesmo.

Felizmente, muito se tem feito para diminuir o grande número de lesões e o fisioterapeuta, como profissional e elemento da equipa, tem a obrigação de, não só realizar o tratamento das lesões, mas também preveni-las. A fisioterapia preventiva pode evitar que estas lesões ocorram, pois o profissional da saúde está ‘ali’ para começar e acelerar todo processo de reabilitação.

Carla Santos – Fisioterapeuta