Quarta-feira, Jan Oblak jogou a primeira mão das meias finais da Liga dos Campeões, frente ao Bayern de Munique. Poderá ser também, esta época, campeão espanhol. O atual guarda-redes do Atlético de Madrid tem uma das melhores médias de menos golos sofridos nos principais campeonatos europeus – 0,46 golos sofridos por jogo em 45 encontros disputados. Jan Oblak é uma figura bem conhecida dos leirienses.
Na época 2011/2012, Oblak, com 19 anos, chegava a Leiria por empréstimo do Benfica. Tirou o lugar a Gottardi e segurou a baliza em 17 jogos. Fez a sua última atuação com o castelo ao peito frente ao Nacional, onde foi expulso aos 92 minutos.
Mas a passagem desta estrela mundial em Leiria fica marcada pela prestação no jogo com o Feirense. Amanhã, dia 29 de abril, completam-se quatro anos sobre esse encontro. A União de Leiria entrava em campo com apenas oito jogadores, algo inédito no mundo do futebol. Oblak, e companheiros, aguentaram até ao limite mas acabaram por perder 0-4.
Nessa altura, a União de Leiria vivia dias bastante conturbados. Os jogadores tinham vários meses de salário em atraso, alguns abandonaram a equipa, iam no quarto treinador – Dominguez assumia depois de Caixinha, Pontes e Cajuda – e o plantel avançou para a greve aos treinos e jogos. Sobraram oito jogadores na equipa. Pedro Almeida, Shaffer, Al-Hafith, Filipe Oliveira, John Ogu, Niklas e Djaniny completaram o grupo, com Oblak.
Numa das épocas “mais marcantes” da sua ainda curta carreira, Pedro Almeida, atual defesa do Atlético (II Liga), fazia a transição para sénior e era apanhado num turbilhão de acontecimentos. Solidarizou-se com os companheiros de equipa mas, como tinha contrato com outro clube, acabou por se apresentar para jogar.
“Diria mesmo que é inédito o plantel todo se unir e fazer uma rescisão coletiva. Não diria que era um grupo perfeito mas tinha grandes homens a comandar (…)Gostei muito desse ano e fiquei adepto do clube… Obviamente que gostaria de ter terminado da melhor forma essa época mas não penso muito nisso. Não se pode apagar o passado”, confessa. “Quem sabe um dia não voltarei”, acrescenta.
Fernando Encarnação, vice-presidente da União de Leiria para o futebol juvenil, viu dois dos seus “meninos” socorrer os seniores: Pedro Almeida e Filipe Oliveira. Outros cinco juniores juntaram-se ao plantel, dias depois, para o jogo com o Benfica.
“Só o necessário afastamento temporal permite analisar as circunstâncias, o sacrifício, a humilhação e a dádiva de todo aquele período da União de Leiria. Mas eu que vivi aquilo, ri, chorei, pulei com tudo aquilo, não hesito em dizer que eles foram uns heróis, os meus heróis”, defende o dirigente, que mantém contacto com os atletas e faz questão de acompanhar os seus feitos.
Atualmente a trabalhar com Paulo Duarte na seleção do Burkina Faso para o apuramento na CAN, Vasco Évora, treinador de guarda-redes em 2011/2012, recordou recentemente com Oblak a “aventura” dos oito bravos do plantel. “Entrámos para o jogo meia hora depois da prevista, sem aquecimento…Foi um jogo em que o Oblak defendeu tudo o que podia. Aguentou quase meia parte sem golos, mas depois sozinho não conseguiu fazer mais nada…”, conta, orgulhoso do feito do seu orientado e da carreira hoje alcançada.
Dos oito atletas que “resistiram” a 29 de abril de 2012, apenas um ascendeu a um grande europeu e dois permanecem em Portugal. Os treinadores também saíram do país: um para Espanha, outra para uma seleção africana. Destinos diferentes mas sempre com a mesma paixão pelo futebol.
Marina Guerra – Região de Leiria