Que balanço faz da temporada que agora terminou e o que faltou ao SCE Bombarralense para ter lutado pela subida de divisão?
Para um 3º ano à frente dos destinos do clube, considero este 3º ano, muito decepcionante. A ideia era fazer um percurso “sempre a crescer” e este 3º ano seria o ano em que a candidatura à subida de divisão teria que ser assumida por todos de forma mais convicta. Em 1º lugar os constrangimentos financeiros não permitiram trazer para o clube alguns atletas que pretendia e que no meu ponto de vista tinham complementado a qualidade já existente no plantel. Em 2º lugar os atletas que o clube acabou por contratar, não tiveram o rendimento esperado, não se mostraram nalguns casos à altura do desafio pretendido, no entanto aqui eu tenho que assumir a minha responsabilidade como treinador porque possivelmente não consegui retirar destes atletas o seu verdadeiro potencial. Quando não se atinge objectivos, não podemos sacudir a água do capote e obviamente que assumo também a minha cota de responsabilidade, mas a realidade é que o plantel desta época, era muito mais fraco que o da época transacta.
 
Esta temporada teve a curiosidade, de em 23 equipas na 1.Distrital, as três que subiram de Divisão pertenciam à Série Sul, e mesmo a que ganhou o grupo B, também pertencia à Série Sul. Tinha a noção, ao longo do campeonato, que estava a competir na série mais forte e que se estivesse noutra série talvez pudesse ter ido um pouco mais longe?
A série C era, e comprovou-se isso mesmo, a mais forte deste campeonato. Mesmo com todos os constrangimentos de plantel, não fomos uma equipa feliz, longe disso. Ficamos a 4 pontos do apuramento, acabámos com o 2º melhor ataque, e a melhor defesa da série. O que faltou? Bem, para além de mais competência, não tivermos nunca a “sorte do jogo”. Falhamos penaltis, para além da hora que nos retiraram pontos suficientes para sermos apurados, sofremos golos fora do tempo, e sem responsabilizar as equipas de arbitragem, pois na grande maioria dos jogos as mesmas foram competentes, a verdade é que em 2 jogos muito específicos as coisas também não correram bem aos árbitros, tal como por vezes não correm bem aos treinadores e atletas, mas ficaram ai uns pontos em que a nossa responsabilidade como equipa foi complementada com a responsabilidade da equipa de arbitragem. Podíamos perfeitamente ter sido apurados com uma ponta de felicidade. Se subíamos depois ou não, nunca saberemos, até porque na realidade havia equipas com outros recursos, que o SCE Bombarralense não tinha. O facto de terem sido as equipas da serie C a subirem de divisão, não me espanta porque na realidade foram boas equipas e fizeram óptimos campeonatos. Mesmo na série B, a equipa que venceu, era uma boa equipa. Nas outras séries vimos equipas que passearam na 1ª fase e que depois, não se conseguiram impor, não estou admirado. As equipas mais a sul eram seguramente as melhores e a classificação final comprova-o.
O SCE Bombarralense, um dos clubes mais históricos do Distrito de Leiria, tarda em voltar aos tempos de glória. Para quem está de fora, dá ideia de algum comodismo em relação à situação actual. Da sua experiência dos últimos anos, o que tem faltado ao Bombarralense para se voltar a assumir como grande clube a nível distrital?
Com todo o respeito por todos os clubes, o SCE Bombarralense estar nesta divisão é um “crime”. Falta na minha opinião ao clube olhar para o futebol , não época a época, onde tudo tem começar do inicio, mas apostar numa ideia a médio prazo. As pessoas responsáveis pelo clube têm que sem sentar e definir. Onde queremos que o SCE Bombarralense esteja em 2020!! E trabalhar de forma estável, definindo competências, estratégias de forma a cumprir o objectivo definido. O SCE Bombarralense é um “monstro” adormecido, que não pode estar refém dos jogadores seniores que queiram jogar no Clube, é o contrário, o Clube é que tem que escolher quem quer, o Clube é que em função de dar cumprimento a objectivos de médio prazo, tem que escolher os seus parceiros, onde se incluem treinadores e atletas, dar-lhe condições e depois enaltecer, corrigir ou criticar em função dos desempenhos e concretizações de objectivos. O SCE Bombarralense , tem que cada vez mais consolidar a formação e ser um protagonista no futebol juvenil da AF Leiria, como um clube de referência, com ciclos de 4 anos também eles muito bem definidos, com técnicos/formadores que possam ir “gravando um ADN” nos miúdos. O SCE Bombarralense é demasiado “grande” para ser apenas um clube que viva apenas do passado. O passado é importante, mas está no museu e o clube já não tem espaço para viver desses “rendimentos”. Modernizar-se e olhar para o futuro de forma organizada e estruturada é na minha opinião o único caminho possível, para a sobrevivência deste clube, com a qualidade que merece e que se lhe exige, como referência deste distrito.
 
Já treinou nas distritais de Lisboa, Santarém e Leiria. Quais as maiores diferenças que encontrou nos vários campeonatos, e qual considera mais forte?
Os campeonatos nas Associações são de facto diferentes. Já subi de divisão em Santarém e Lisboa, falhou para já Leiria. Santarém e Leiria são muito parecidos. O futebol jogado nestas Associações, é um futebol de qualidade, os campos são na grande maioria muito bons e apesar de existir a ideia em Lisboa, que nestas Associações o futebol é mais fraco, não é, é um conceito errado , até o acho mais elaborado, mais pensado e mais elegante. Em Lisboa, o facto de alguns campos sintéticos estarem em avançado estado de degradação, dimensões reduzidas de alguns campos, os clubes de bairro, os clubes de uma periferia de Lisboa recheada de localidades/dormitório, onde a população tem determinadas características, torna o futebol com qualidade, mas com índices de agressividade competitiva muito acima do que se vê em Santarém / Leiria. No fundo são campeonatos que estão muito retratados pela forma de estar dessas micro-sociedades que alimentam de atletas estes clubes. A concentração de clubes em Lisboa é muito maior, e torna como consequência os campeonatos muito mais competitivos.
 
Depois de numa fase inicial ter ficado a impressão que o Luís Camacho iria permanecer no comando do SCE Bombarralense, tal não se veio a verificar. O que levou a este desfecho?
Esse assunto já foi comunicado no seu devido tempo. O convite para a época 2016/2017, foi feito, foi aceite e já tínhamos começado a abordar atletas de fora do Bombarral nesse sentido. Entretanto apareceram algumas alterações no projecto e após conversa com o Presidente em funções, acabamos por concluir que seria melhor não dar continuidade ao trabalho desenvolvido nos últimos 3 anos. Fica a minha frustração por não ter conseguido os objectivos a que me tinha proposto no clube. Nada mais há, a dizer sobre este assunto que não seja o facto de agradecer ao Presidente Fernando Tiago e à sua Direcção, a oportunidade que me deu, de ter treinado este grande clube. As pessoas passam, o clube fica, outro projecto para o futebol sénior, aparecerá no Bombarralense com outras ideias, métodos de trabalho e seguramente com mais sucesso.
 
Gorada a hipótese SCE Bombarralense para 2016-2017, já existe algo de concreto para a próxima temporada?
Nunca me preocupei em procurar equipa, porque estava com a cabeça no SCE Bombarralense. A decisão foi tardia o que afectou bastante essa situação, pois os clubes organizam-se em Maio nesse sentido. Neste momento não encontrei nenhum projecto, para dar continuidade ao meu trabalho como treinador, uma situação um pouco estranha para mim, pois nos últimos 25 anos tenho treinado sempre, mas o futebol por vezes tem destas situações e se não aparecer nenhum projecto, irei acompanhando as competições, visitar alguns amigos treinadores porque se aprende sempre nestes contactos e esperar. Tenho o meu trajecto com treinador consolidado, o meu trabalho “exposto”, é uma questão de esperar agora por uma nova oportunidade e forma tranquila e sem atropelar ninguém.