Eram 10h30 de sábado quando Flávio Azenha, Miguel Maia e Gonçalo Vieira chegaram ao campo de treinos em Caxarias, Ourém. Depois de uma rápida verificação das condições do terreno que se apresentava algo enlameado e com poças de água fruto da muita chuva que caiu nos dias anteriores, dirigiram-se ao ‘tee’ e deram – literalmente – o pontapé de saída para mais um treino de footgolf.
Leu bem. Footgolf. Trata-se de uma modalidade recente em Portugal, com origem na Holanda, sendo um jogo com bola de futebol, praticado em campos de golfe, com o objectivo de atirar com o pé a diversas distâncias até à buraliza (junção de buraco com baliza), no menor número de chutos possível.
E em Caxarias há um ‘green’ de footgolf com oito buralizas, propriedade do empresário António Simões que fez da paixão pela modalidade uma forma de vida ao ponto de ter incentivado a criação do Leiria Footgolf Club no Verão passado e de tentar atrair cada vez mais atletas para um desporto que promete fazer furor.
Um desses atletas é Flávio Azenha, de 38 anos, que, em pouco tempo, é já uma das referências nacionais da modalidade. Natural da Marinha Grande, concelho onde representou vários clubes de futebol, Flávio Azenha abraçou o footgolf há poucos meses, mas garante que é um ‘vício’ que veio para ficar.
“No início, confesso que fui um pouco de pé atrás. Parecia-me um bocado parado pelos vídeos que via. Mas depois experimentei e apaixonei-me porque há muito mais do que aquilo que salta à vista. Há força, há técnica, há ter que lidar com a pressão para colocar a bola no buraco, ter que lidar com as condições atmosféricas, as condições do campo. Tem que haver uma adaptação e nós próprios temos que fazer esse esforço, especialmente de ter que lidar com a pressão, e eu gosto disso”, contou Flávio Azenha.
Das cerca de duas horas de treino a que o Diário de Leiria assistiu, os atletas já estão bem à-vontade com a modalidade e o Leiria Footgolf Club é mesmo um dos emblemas que promete lutar pelos lugares cimeiros do circuito nacional. Prova disso mesmo, foi o segundo lugar alcançado pelo clube num torneio realizado recentemente na zona de Málaga (Espanha), o que atesta bem do potencial da equipa constituída por cinco homens e três mulheres.
Em termos individuais, Flávio Azenha é o leiriense que mais se tem notabilizado e com melhores resultados, o que até surpreendeu o próprio atleta. “Em Setembro [2017] participei no Torneio Internacional de Roma em que fiquei em 7.º lugar. Foi incrível porque naquela altura eu jogava há apenas dois meses. Foi uma experiência muito boa para mim porque ajudou-me a lidar com a pressão. Na altura, confesso, acusei um bocado a pressão porque ainda estava ‘verde’, mas correu bem. Depois fiz o Master de Espanha, que era ao mesmo tempo o Open de Salamanca, e ganhei esse torneio e bati o recorde do campo”, contou Flávio Azenha.
Tendo em conta a rápida evolução que Flávio Azenha teve na modalidade, o atleta quer continuar a apostar no footgolf. “Estou numa fase da minha vida em que o footgolf é um escape, mas sou competitivo, gosto de ganhar e se poder ficar mais à frente, não me vou deixar ficar para trás”, vincou o jogador que, em 2017, fiquei em sétimo lugar no ‘ranking’ nacional mesmo só tendo começado a jogar a partir da sexta etapa, sendo, igualmente, o leiriense mais bem classificado.|

Em Portugal só há cinco campos de footgolf

Evolução Um dos grandes problemas do footgolf em Portugal está ligado com falta de campos para a prática da modalidade. Em Portugal existes apenas cinco campos homologados, sendo eles o campo de Benavente, Penha Longa (Sintra), Castro Marim (Algarve), Palmela e Quinta da Marinha (Algarve). Nesse sentido, a Associação Nacional de Footgolf (ANF) tem reunido com as administrações de campos de golf para os transformar em campos de footgolf.
“A nossa esperança é que possam existir mais campos porque se isso acontecer, de certeza que mais atletas vão aparecer e gente com mais qualidade. Eu acredito que, em curto prazo, vai aparecer muita gente com qualidade a jogar e o nível geral dos jogadores portugueses vai subir também por causa disso”, sublinhou Flávio Azenha. Esta visão é partilhada pelo presidente da ANF Ricardo Esteves. “Quando iniciámos este projecto, foi sempre a pensar no que de melhor temos para dar a esta modalidade. Com as excelentes condições do nosso País para a prática desportiva, sempre julguei ser possível uma maior integração com as empresas que de alguma forma comercializam a marca golfe”, confidenciou, adiantando ainda que em Portugal “há cada vez mais praticantes”, havendo actualmente oito clube e mais de 70 atletas.|

Flávio Azenha está de olho na Selecção Nacional

Ambição Com uma evolução tão rápida, é normal que Flávio Azenha pense em outros horizontes. E os mais imediatos, para além de ir ganhando torneios e experiência, é um dia chegar à Selecção Nacional.
“Para mim os torneios têm corrido bem. Pessoalmente, no início, a evolução foi rápida, agora a evolução é mais lenta, mas é com os treinos, com os jogos e com as etapas que vamos fazendo que vamos evoluindo”, disse.
Ao contrário do ano passado, este ano a ANF criou menos torneios em Portugal para os atletas terem oportunidade de participar em torneios lá fora, como Espanha e Itália, cujos torneios valem pontos para o Campeonato do Mundo e valem também alguns euros, porque há prémios monetários à mistura. Ás vezes em Portugal também há ‘prize money’ para atrair atletas estrangeiros, mas não é uma constante. Por tudo isto, Flávio Azenha admite que gostaria de um dia representar a Selecção Nacional.
“Este ano Portugal já está inserido na Federação Internacional de Footgolf pelo que já é possível termos jogadores portugueses no ‘ranking mundial’. Vai também haver o mundial em Marrocos, em Dezembro de 2018. Agora o objectivo é tentar fazer pontos para nos conseguirmos qualificar. Vai ser muito bonito”, vincou o atleta.
Mas não é só Flávio Azenha quem promete fazer furor em 2018 na modalidade. Segundo o presidente da Associação Nacional de Footgolf, o Leiria Footgolf Club (LFC) tem todas as condições para arrebatar títulos nacionais. “É um clube com grandes jogadores, com grande qualidade. Além disso, o Flávio [Azenha] tem brilhado no nosso circuito e em torneios internacionais. Não tenho dúvidas que o LFC terá excelentes condições para vencer o circuito nacional este ano”, disse Ricardo Esteves.
O circuito nacional arranca a 24 de Março, em Benavente, sendo composto por nove etapas. |

Uma modalidade para todos, dos 8 aos 80 anos

Footgolf Uma das característica do footgolf é que ele é transversal, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, dos 8 aos 80 anos, e nem precisa ter sido jogador de futebol. “Naturalmente que quem jogou futebol parte em vantagem porque tem uma maneira diferente de chutar. Mas não é assim tão importante. A evolução pode ser um pouquinho mais lenta, mas há muita gente no circuito que nunca jogou futebol. Por exemplo, a campeã nacional, a Joana Dias, nunca jogou futebol”, contou Flávio Azenha.
Apesar de tudo, não há muitas mulheres a praticar a modalidade. “Estamos a tentar que mais mulheres se juntem a nós porque é um desporto que pode ser praticado por todos e de todas as idades”, disse.
No que diz respeito às características físicas, Flávio Azenha garante que não há grandes requisitos. “É preciso alguma força muscular principalmente para o pontapé inicial. De resto não é muito exigente. Em termos de preparação física, vejo muita gente a jogar com 40 ou 50 anos. É um pouco como o golfe: passear pelo campo e dar uns chutos na bola”, brincou.
Por todas estas características, Flávio Azenha acredita que o footgolf vai “crescer” de uma forma “natural”. “Para os jogadores que deixam de jogar futebol e que não possam continuar a competir, o footgolf abre novas fronteiras para se continuar activo e em competição”, sublinhou.
Por isso mesmo, o atleta faz um apelo: “Que venham experimentar, porque só mesmo experimentando é que se tem real dimensão do que é o footgolf, especialmente para quem gosta de dar uns chuto na bola e verão que se vão apaixonar pelo footgolf assim como aconteceu comigo. |

Qual a indumentária?

A indumentária para a prática de footgolf é, basicamente, o equipamento de um golfista, sem os sapatos com pitões. Habitualmente, um boné ou uma pala, uma camisola de polo (com gola), calças, bermudas ou calções de golfe, as tradicionais meias de losangos até ao joelho e sapatilhas de futebol. Este estilo não é obrigatório em todas as ocasiões, mas sim em torneios ou eventos oficiais. Noutras competições, o vestuário é uma premissa dos organizadores. É de notar que quase todos os clubes de golfe têm um código de vestuário e a mesma prática é implementada nos campos de footgolf.

Quais são as regras básicas?

Para além da indumentária, o footgolf tem uma série de regras. Por exemplo, todos os jogadores devem manter uma postura disciplinada, exibindo sempre cortesia e desportivismo. Além disso, não se deve perturbar ou distrair os adversários; não se deve pedir conselhos ou dicas; não se deve dar chutos de teste, enquanto se está a jogar a uma buraliza; a bola tem de ser rematada num só gesto contínuo com qualquer parte do pé; não é permitido empurrar, pisar, arrastar ou tocar na bola de outra forma; não se deve interferir com a trajectória da bola, parando-a ou evitando obstáculos; e deve-se esperar que a bola fique completamente imóvel até executar o chuto seguinte.
No final, ganha quem executou menos chutos nas várias buralizas que costumam ser 18. |

Textos: José Roque – Diário de Leiria
Foto: Luís Filipe Coito