Num comunicado colocado no seu Facebook Oficial, o Grupo Desportivo “Os Nazarenos” desmentem as notícias publicadas na última semana na comunicação social. Veja o comunicado na íntegra:

COMUNICADO
Em reunião de Direcção do Grupo Desportivo “Os Nazarenos”, realizada hoje, pelas 19H00, no decurso da qual foi analisado o Comunicado emitido pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) em 14/03/2019, intitulado “SEF detém empresários de futebol indiciados por tráfico de seres humanos” e cujo conteúdo se reproduzirá integralmente no final deste comunicado, foi deliberado prestar os esclarecimentos seguintes:
1 – É verdade que na tarde do dia 13/03/2019 foi passada busca às instalações do Grupo Desportivo “Os Nazarenos”, coordenada pelo Ministério Público, a quem foi prestada toda a colaboração solicitada e no decurso da qual foi apreendida alguma documentação, mas nenhum material informático nem de comunicações;
2 – Não foram realizadas quaisquer outras buscas quer a residências, quer a viaturas do clube ou de dirigentes;
3 – É verdade que o Grupo Desportivo “Os Nazarenos” e o seu Presidente da Direcção (que ficou sujeito apenas á medida de coação de Termo de Identidade e Residência) foram constituídos arguidos, mas antes da realização das buscas e não depois;
4 – Nenhum dirigente do GDN, incluindo o seu Presidente, foi sequer interrogado acerca dos factos sob investigação, o que se espera venha a acontecer com a maior brevidade possível, no sentido de ajudar a esclarecer as autoridades acerca dos factos sob investigação;
5 – Nem o Grupo Desportivo “Os Nazarenos” nem nenhum membro da sua Direcção, incluindo o seu Presidente, fazem ou fizeram parte de um esquema de “tráfico de seres humanos”, crime que reputam de hediondo;
6 – Nunca nenhum membro da Direcção do GDN, incluindo o seu Presidente, prometeu fosse o que fosse a qualquer atleta estrangeiro;
7 – Nunca o GDN ou algum membro da Direcção, incluindo o seu Presidente, recebeu dos atletas, dos seus familiares ou de quaisquer representantes seus, qualquer quantia monetária ou qualquer outro tipo de vantagem económica;
8 – Foi o Grupo Desportivo “Os Nazarenos” e os seus dirigentes que resgataram os atletas estrangeiros que foram literalmente abandonados pelos empresários responsáveis pelas suas vindas para Portugal;
9 – Depois de abandonados pelos seus empresários foram os próprios atletas que pediram para ficar no clube porque pretendiam lutar pelos objectivos desportivos do clube, o que têm feito com enorme dedicação e dignidade;
10 – Desde a data em que foram abandonados por aqueles empresários foi o GDN e os seus dirigentes, quem providenciou pelo sustento dos atletas em causa;
11 – Os atletas ficaram então temporariamente alojados em instalações provisórias no próprio Estádio, as quais, longe de serem as ideais, eram as únicas disponíveis dada a ausência de alternativas públicas ou privadas, tendo em todo o caso assegurado as suas necessidades de alojamento de forma certamente mais digna do que aquela com que muitos cidadãos portugueses infelizmente ainda hoje se debatem;
12 – De há cerca de 1 mês e meio a esta data todos os atletas estão alojados em apartamentos com todas as comodidades e onde são confeccionadas todas as suas refeições;
13 – A alimentação dos atletas em questão é perfeitamente adequada e suficiente, o que é facilmente constatável por quem tem oportunidade de constatar o rendimento desportivo de todos eles dentro do campo;
14 – Todos os atletas reconhecem o esforço que tem sido feito pela Direcção para que nada lhes falte para poderem desempenhar convenientemente a sua actividade;
15 – Todos os atletas estrangeiros que passaram pelo GDN (os que cá continuam e os que regressaram entretanto ao seu país) durante esta época mantém fortes laços de amizade com os dirigentes do clube, as quais perdurarão seguramente para o resto das nossas vidas, facto que é público e notório para todos os sócios e simpatizantes do clube que diariamente frequentam as suas instalações;
16 – Todos os atletas que, por força do abandono a que foram votados pelos seus empresários, optaram na altura por regressar ao seu país de origem, verbalizam diariamente que querem regressar ao clube na próxima época desportiva;
17 – Todos os atletas estrangeiros que jogaram pelo clube na presente época desportiva, fizeram-no porque viram as suas inscrições validadas pela Federação Portuguesa de Futebol, através da A.F. Leiria, que arrecadaram as respectivas taxas.
Pelo exposto, a Direcção do Grupo Desportivo “Os Nazarenos” aguardará serenamente o desenrolar do inquérito em curso, continuando como até aqui a colaborar com as autoridades para um completo e cabal esclarecimento da verdade, apelando a todos que respeitem o princípio da presunção de inocência, uma vez que até à presente data nenhuma acusação foi deduzida contra o Grupo Desportivo “Os Nazarenos” ou contra o seu Presidente, a quem a Direcção manifesta publicamente todo o seu apoio e solidariedade, até porque neste clube as decisões são tomadas por todos e não por uma só pessoa!
Nazaré, 15 de março de 2019
A Direcção,

– Transcrição do Comunicado do SEF
“ SEF detém empresários de futebol indiciados por tráfico de seres humanos
14/03/2019
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) deteve ontem, na cidade de Leiria, dois cidadãos sul-americanos, agentes desportivos e responsáveis pela entrada e permanência ilegal de um número substancial de jovens futebolistas, em situação irregular. Os arguidos estão indiciados pela prática dos crimes de tráfico de seres humanos, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.
A ação, coordenada pelo Ministério Público, englobou buscas domiciliárias às residências dos suspeitos, a viaturas e a um clube desportivo da Nazaré, entidade que veio a ser constituída arguida, tal como o presidente da direção. Em resultado das buscas ontem realizadas foi apreendida documentação relacionada com o esquema de angariação de futebolistas, assim como material informático e de comunicações.
Esta ação constituiu o desfecho de meses de investigações iniciadas pelo SEF em finais de 2018. Na altura, no final do ano passado, uma outra ação do SEF levou à identificação de cerca de duas dezenas de cidadãos estrangeiros em situação irregular, jovens futebolistas, que se encontravam alojados em áreas afetas à associação desportiva, agora constituída arguida, em condições indignas, vivendo com extremas dificuldades económicas. Comprovou-se que teriam vindo para território nacional, angariados através de um esquema que envolvia vários intervenientes, e no qual os cidadãos agora detidos desempenhavam um papel crucial.
Aos atletas, todos sul-americanos, era prometida a legalização em território nacional e a celebração de contratos profissionais como futebolistas, a troco de elevadas quantias monetárias, sendo que, em muitos casos, a vinda implicou o endividamento das respetivas famílias. Já em território nacional os atletas eram canalizados para o clube em questão, mas sem que qualquer das promessas fosse cumprida. Depois de inicialmente alojados pelos empresários em apartamentos, acabaram por ser progressivamente abandonados por estes, tendo terminado alojados, sem quaisquer condições, nas instalações onde foram identificados pelo SEF, muitas vezes sem alimentação adequada e desprovidos de contrapartidas financeiras pela atividade desportiva desenvolvida.
Alguns dos atletas acabaram, entretanto, por abandonar o país e outros, inclusive com o apoio do SEF e dentro do quadro legal vigente de proteção a vítimas de tráfico de seres humanos e de ações de auxílio à imigração ilegal, aguardam a regularização em território nacional.
A operação “Fair Play” contou com a participação de 17 operacionais do SEF.”