Treinadores falam do que pensam da paragem das competições e de que forma mantêm contacto com os jogadores.

-Associação Desportiva Portomosense
Pedro Solá, técnico do Portomosense confessa que a pandemia trouxe ao balneário um sentimento de «incerteza», não sendo logo claro para todos «a gravidade da situação». Foram ouvindo as notícias mas não esperavam que a evolução fosse «tão galopante». Hoje, apesar de tudo continuar uma «incerteza» já lhe parece certo que existem poucas chances de que os treinos e as competições retomem. A equipa, considera, estava «numa fase boa» e tinha feito «alguns ajustes para atacar a última fase do campeonato e da taça distrital» e uma paragem destas não é nada benéfica.
«Isto é como pararmos nas férias, embora façamos planos de treinos para ir dando aos atletas, que não são profissionais, não vivem disto, nunca vamos ter a certeza que eles o fazem, ainda para mais quando há incerteza relativamente ao recomeço das competições». Pedro Solá diz mesmo que uma paragem como esta é como «voltar à estaca zero», havendo apenas a vantagem «dos jogadores já se conhecerem uns aos outros e já terem uma ideia de jogo, mas que em todo o caso, na condição física, níveis de confiança, na rotina normal do jogo ao domingo, tudo se vai perder».
O contacto com os jogadores tem-se mantido através das redes sociais e apesar de não conseguir ter o tal controlo sobre as rotinas dos jogadores, acredita no seu espírito de responsabilidade, reconhecendo que de momento há outras coisas que ocupam «a cabeça» dos atletas «por muita responsabilidade que eles tenham». O técnico frisa ainda que «há jogadores que são oriundos de outros países e neste momento a mente deles está lá, pensando no que se possa estar a passar com as famílias».
Em nenhuma dimensão competitiva, frisa Pedro Solá, os jogadores «estão preparados» para lidar com esta situação. O treinador deseja que tudo «seja ultrapassado rapidamente» e diz que nada vai voltar a ser o mesmo. No mundo desportivo, o técnico acredita que muitos «clubes vão acabar» devido às consequências económicas.

-CCR Alqueidão da Serra
O treinador do Alqueidão da Serra, Filipe Faria, assume que «numa primeira fase» a equipa técnica e os jogadores não pensaram que o problema «fosse tão expansivo» mas acataram as ordens da Associação de Futebol de Leiria e suspenderam de imediato os treinos. Agora todos estão «apreensivos e preocupados», sabendo que o que inicialmente previam – estar de volta à competição em duas ou três semanas – não se irá realizar. O técnico prevê consequências competitivas mas também económicas que o novo coronavírus vai provocar, não só na equipa que comanda, mas a nível
nacional: «Uma paragem deste tipo acarreta dificuldades físicas aos atletas e elevados custos ao clube». A equipa técnica e a direção mantém-se em «contacto constante, duas ou três vezes por semana» com os jogadores, não só para perceber «se está tudo bem e se precisam de alguma coisa» mas para enviar «o plano de treinos» semanal para «eles poderem realizar dentro de casa». Aqui também as redes sociais e os e-mails são aliados, é através destes meios que são enviadas todas as informações sobre os treinos, que apesar de serem coletivos, depois «podem ser adaptados a cada atleta, dependendo quer do material de que dispõem, quer do espaço que têm para treinar em casa ou junto à casa». O treinador lembra que alguns destes atletas se mantêm em teletrabalho e por isso esta conjugação não é fácil, no entanto considera que tem «uma equipa muito responsável, que está a ter os maiores cuidados de segurança [para evitar o contágio] e também está a realizar o plano de treinos». «Éramos um grande grupo no balneário e fora do balneário, muito unido e muito forte e apesar de estarmos longe, continuamos a ser e estamos aqui para nos ajudarmos uns aos outros», reforça Filipe Faria.
O treinador frisa também que esta é uma situação «muito mais importante que o futebol, diz respeito à saúde de todos nós» e que a união será sempre a máxima da sua equipa

-União Recreativa Mirense
Pedro Cordeiro estava apenas há «três semanas» no comando técnico do Mirense quando a pandemia da COVID-19 afetou Portugal e obrigou à suspensão das competições. «É uma situação, para quem está no futebol, que está muito longe de ser desejável até porque eu entrei no dia 18 de fevereiro, tivemos apenas três semanas de treinos e dois jogos», frisa o treinador.
O profissional acredita que ninguém, «nem os portugueses em geral» nem a equipa do Mirense, percebeu que o novo coronavírus ia ter um impacto tão grande.
Já depois da decisão da Associação de Futebol de Leiria (AFL) ter sido tomada e por já se encontrarem nas instalações do clube quando souberam da suspensão das competições, a equipa do Mirense ainda treinou.
O objetivo do treinador, admite, era continuar «a treinar duas vezes por semana» até saber desta decisão da AFL e ter «uma real noção» dos níveis de propagação em causa. O treinador diz que «mesmo para os jogadores profissionais» não é fácil manter os níveis físicos, mais difícil é quando se trata de jogadores amadores. Quanto à «componente tática e técnica» não há qualquer hipótese de ser mantida sem os treinos em campo e com bola. Pedro Cordeiro diz que é possível amenizar as questões físicas, tentando «manter uma boa capacidade muscular e cardiovascular» com alguns exercícios que está a passar aos jogadores com quem mantém também contacto diário. No entanto, o técnico considera que isto «não é fácil» de cumprir, «seja por uma questão de motivação, seja por uma questão de tempo ou do material que têm disponível». O treinador lembra que tem uma dificuldade acrescida, o facto de ter entrado há pouco tempo no Mirense não lhe permitiu «fazer uma avaliação dos jogadores» para saber, individualmente, quais as maiores necessidades físicas de cada atleta. Pedro Cordeiro quer passar para essa fase, utilizando os meios possíveis de momento, para tentar perceber «o que sente cada jogador que tem que trabalhar» e assim adaptar o treino.

Jéssica Moás de Sá – O Portomosense