A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) registou, na presente temporada, um decréscimo no número de jogadores extra-comunitários nas competições não profissionais, com especial enfoque no Campeonato de Portugal: menos 387 face aos 2.579 de 2019/20, ao que não será alheio o impacto da pandemia de covid-19 e a adoção de medidas de combate à situação de ilegalidade de futebolistas em território nacional.
Começando pelos números, o organismo federativo faz notar que os jogadores se inscrevem por clube e não por competição, pelo que os atuais 2192 extra-comunitários jogam no Campeonato de Portugal (CdP) e, ao mesmo tempo, em provas e escalões mais abaixo, nomeadamente na Liga Revelação e equipas B nos distritais. O CdP é considerada a competição mais sensível, sobretudo por ser o último patamar anterior às ligas profissionais, objetivo maior dos futebolistas que imigram, assim como dos seus empresários e até dos clubes a que pertencem, todos à procura de uma fatia no negócio das transferências.
Assim, em 2018/19, o CdP registava 2 390 extra-comunitários, 2 579 na época seguinte e 2 192 na presente. Mas, conforme os dados a que O JOGO teve acesso, é nos inscritos pela primeira vez que se nota maior diferença: 803 em 2018/19, 738 na época seguinte e apenas 185 na atual.
Há menos extra-comunitários no Campeonato de Portugal: perceba o que mudou
Se é um facto que a pandemia fez diminuir consideravelmente a mobilidade dos jogadores e o foi período em que o mercado dos clubes de menor dimensão quase nem se mexeu, também as medidas de combate às situações clandestinas, por parte da FPF, terão feito cair o número de extra-comunitários.

O que mudou?
E o que mudou para tornar mais difícil inscrever um jogador sem a documentação exigida pelas autoridades nacionais? Durante muitos anos, bastava submeter às autoridades a chamada “manifestação de interesse” para ter direito a exercer atividade em Portugal enquanto a documentação se encontrava em análise pelas entidades competentes.

Entretanto, a FPF e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) criaram um grupo de trabalho para acompanhar o fenómeno da imigração ilegal e, na sequência, o organismo que tutela o futebol apertou a malha regulamentar com medidas já para a presente época.
É menos fácil a inscrição nas provas semi-profissionais e amadoras. A pandemia ajudou a diminuir o número de extra-comunitários, mas as medidas entraram em vigor para travar casos de ilegalidade
Assim, os novos atletas amadores estrangeiros têm de ter um visto tipo D e autorização de residência para se poderem inscrever. Os profissionais, por seu lado, podem continuar a usufruir da prerrogativa da “manifestação de interesse” até à conclusão do processo.
Por fim, a alteração das idades dos formados localmente – três épocas completas inscritos por clubes integrados na FPF – passou a consagrar o intervalo entre os 11 e os 19 anos (antes era dos 13 aos 21), sendo que a maioria chegava aos 18, segundo dados do organismo.

António Barroso (jornal O JOGO)