A de 14 de agosto 2019, Stéphanie Frappart tornou-se na primeira mulher a dirigir uma Supertaça Europeia, apitando o jogo entre Liverpool e Chelsea, e Márcia Pejapes gostou do que viu. A penichense foi uma das primeiras árbitras do Oeste e, por isso, apreciou a atuação da gaulesa.

“Gostei de ver e os jogadores portaram-se muito bem, pelo respeito que mostraram. Gostei, sobretudo, que ela tivesse evidenciado que uma mulher também tem a capacidade para ser árbitra, não tendo, por isso, de ser um lugar só para os homens”, relembra a antiga árbitra, assumindo que ser mulher num mundo ainda visto como pertencente ao homem não é, de todo, fácil.
“Na arbitragem, enquanto eles têm de dar 100%, nós, por sermos mulheres, temos de dar 200%, para tentar mostrar que valemos alguma coisa”, frisa a mulher que, apesar do apoio dos colegas e das instituições do futebol, assume que tinha de marcar uma presença e adotar “uma posição mais rígida e austera”, quando arbitrava jogos de rapazes ou homens.
Desde sempre que o desporto faz parte da sua vida. O pai, Carlos Pejapes, foi jogador e é treinador no Grupo Desportivo de Peniche. Ela jogava futsal, desporto que abandonou depois de uma lesão no joelho. A arbitragem aparece como uma brincadeira.
Depois de dirigir um torneio “para miúdos” em Peniche, um ex-colega de profissão, desafiou-a a tirar um curso. Iniciou a formação em 1999 e o curso tinha a duração de um época inteira. “Começávamos com umas camisolas, com o símbolo da Associação de Futebol de Leiria, que informava que estávamos em formação e só no final da época é que fazíamos os testes escritos, as provas físicas e, consequentemente, saberíamos se estávamos aptos ou não para ser árbitros”, recorda.
Ao longo da carreira tomou decisões que ditaram a sua vida profissional. Teve de optar entre competições femininas, a nível nacional, ou tentar subir à 3ª Divisão masculina. No entanto, sabia que esta opção seria mais difícil, pela competitividade. “Como se costuma dizer, eram muitos cães para o mesmo osso”, assinala.
Márcia Pejapes, recorda que, no início, havia alguma “confusão” quando um homem e uma mulher partilhavam o balneário.
Hoje a arbitragem está “mais simplificada”, devido às novas tecnologias, o que não impede os erros. “Há muitos mais meios, mas perde-se o lado humano, porque o arbitro já não tem a necessidade de olhar para os assistentes, isto é, hoje as diversas posições comunicam entre si, através das novas tecnologias”, assinala
Em 2011, por motivos de saúde, viu-se obrigada a abandonar a atividade. No entanto, olha para este período da vida com muita saudade e carinho. Recorda com felicidade o facto de ter sido uma das primeiras mulheres a tornar-se árbitra no Oeste e de quando dirigiu, pela primeira vez, um jogo da Taça de Portugal feminina.
“São marcas que ficam para toda a vida e que deixam saudades. Mas a vida é mesmo assim, tudo começa e tudo termina e quando chegou a minha hora teve de ser”, explica a penichense, dando, assim, o apito final.

Joaquim Paulo – Gazeta das Caldas