«Para mim é o concretizar de um sonho poder jogar na Mata contra o Benfica, porque quando eu era miúdo já vi este jogo realizar-se no Campo da Mata, um Caldas x Benfica, amigável, e o campo estava cheio. Lembro-me de eu e os meus colegas, que na altura entrámos com os jogadores, dissemos que íamos ser nós a jogar este jogo. Sonhávamos quando éramos meninos e hoje, com 30 anos, posso realizá-lo.»

É desta forma que Thomas Militão, central e capitão, de 30 anos, do Caldas SC começa por descrever, em declarações exclusivas ao zerozero, a importância que tem para si receber um clube como o Benfica, no sábado, 15 de outubro, a contar para a 3ª eliminatória da Taça Portugal. «É uma alegria enorme poder receber e defrontar um clube desta dimensão. Sentia que o clube e todos os que o rodeiam mereciam viver um dia destes, porque têm feito coisas extraordinárias. Agora, depois de tudo, não sei se fico assim com tanta alegria, porque é complicado um clube grande vir disputar uma eliminatória com um clube como o Caldas, porque requer muitas exigências da parte das autoridades, de quem organiza o jogo. Não é fácil para os clubes pequenos receberem os grandes nas suas casas», começa por descrever-nos o experiente defesa.

Thomas Militão referia-se aqui ao grande burburinho que houve durante a última semana, relativamente à possibilidade do jogo não se realizar no Campo da Mata, casa do Caldas SC, equipa que milita na Liga 3. Inicialmente, as autoridades afirmavam não haver as condições de segurança necessárias para o jogo com o Benfica se realizar ali, mas, depois de intensas obras, que até contaram com a ajuda do presidente do clube, surgiu a confirmação de que o clube tem a autorização para receber os encarnados na sua casa. O experiente central explica a diferença que isso faz. «Para mim, ainda tem mais importância ser no Campo da Mata, porque sou prata da casa. Estou no Caldas há mais de 20 anos. Diz-me muito e muito do que sou hoje, é derivado deste clube. Ser na nossa casa ou não ser é uma grande diferença, desde logo ao nível de jogo, porque nós estamos habituados a jogar no nosso campo. É ali o nosso conforto e onde nos sentimos bem, juntamente com os nossos adeptos, porque se cria ali um ambiente como não se vive em muitos campos. Sentimos isso e aproveitamos da melhor maneira a nosso favor. Depois é a questão do sentimento. Tal como eu, há muita gente que sente este clube e quer muito que o Caldas esteja no Campo da Mata. Andou-se tantos anos à espera de um grande para fazer uma bonita festa e seria uma desilusão não fazer o jogo no Campo da Mata.»

O Caldas SC é o único clube que Thomas conheceu em toda a sua vida, tendo ali chegado em 2001. Mesmo não sendo natural das Caldas da Rainha. Thomas sente-se um verdadeiro caldense, depois de 21 anos no clube: «Ser do Caldas é especial. Não digo que somos diferentes das outras pessoas. Somos iguais, mas vivemos as coisas de maneira diferente. Sabemos receber, sabemos estar, é ter uma paixão muito grande pelo clube e pelo jogo. Ser Caldas é ser amigo, é ser humilde, trabalhador, porque não nos dão nada. Este clube esteve muito mal há uns anos e foi recuperando derivado do trabalho de pessoas no clube que não ganham dinheiro nenhum, mas sacrificam o seu bem-estar para poder estar ali a ajudar o clube. O Caldas é uma família.»

Este pode ser o «maior» adversário que o Caldas SC defronta em largos anos – não joga frente a um grande desde as décadas de 50 e 60 -, mas, para Thomas Militão, está longe de ser o jogo da sua vida e da vida do clube. Esse lugar está reservado ao duelo com o Desportivo das Aves, em 2018 (1-2), quando o conjunto caldense ficou a um «pequeno» paço de alcançar uma histórica final da Taça de Portugal.
«O jogo da minha vida é a meia final com o Aves, porque nos garantia o acesso a uma final histórica. Por enquanto ainda é o jogo da minha vida, mas este jogo com o Benfica é um jogo tornado realidade e muito especial. Não é o jogo da minha vida nem da vida do clube. Óbvio que é especial defrontar um grande, mas também só nos vai garantir a passagem à 4ª eliminatória. Aquele jogo das Aves garantia a final. Para mim tem esta carga emocional, porque me faz lembrar aquele jogo quando era menino, com cerca de 12 anos, e fiquei sempre a pensar nele», explica. Relativamente ao jogo com o Benfica, Thomas sabe que as possibilidades do Caldas são «reduzidas», mas mostra-se crente: «Sabemos que as nossas possibilidades são muito reduzidas neste jogo. Mas também sabemos que vamos colocar dificuldades no Benfica. Sabemos das nossas armas e é com elas que nós vamos jogar. Uma delas, não vou esconder, é jogar no nosso campo, porque tem uma envolvência espetacular. Parece que nos transformamos nestes jogos, também muito pelo ambiente que se faz sentir. Sei das dificuldades que vamos encontrar e das nossas possibilidades, mas acredito que vamos dar uma boa réplica e vamos dar luta. Tem que se acreditar. Enquanto for possível, vou sempre acreditar que conseguimos passar e fazer mais história neste clube.»

Texto retirado do zerozero.pt