Diário de Leiria Na fase de subida a UD Leiria vai defrontar o Alverca, o Felgueiras e o Braga B. O que se pode esperar destes adversários?
Vasco Botelho da Costa Independentemente do sorteio, a Liga 3 já nos habituou que nenhum adversário é fácil. Depois, estando as equipas tão perto de alcançar um objetivo de subida de divisão, todas elas vão estar altamente motivadas. Partindo do princípio que são as quatro melhores equipas da primeira fase, forçosamente têm qualidade e estão preparadas. Portanto, zero facilidades. Estamos a falar de equipas recheadas de muita qualidade. O Alverca é uma equipa que, normalmente, tem muitos recursos; o Braga tem jovens de imensa qualidade, com uma formação que cada vez mais se evidencia a nível nacional, conseguindo já transacionar jovens a altos valores; e o Felgueiras recheado de muito talento. Têm alguns jogadores com escola de clube grande e, ao mesmo tempo, tem jogadores muito conhecedores desta realidade.

São equipas que vão apresentar desafios novos à UD Leiria?
Todas estas equipas têm muita qualidade, têm as suas características específicas, formas de jogar distintas, mas conhecemos bem. O Braga é orientado pelo Custódio que é um treinador com quem já lidámos no Estoril , portanto conhecemos bem a forma de jogar. O Alverca também não é uma novidade. Para além de conhecermos o trabalho do Leandro Pires, também já defrontámos duas vezes o Alverca esta época, embora nos impacte mais a segunda vez que jogámos porque já eram orientados pelo Leandro enquanto na primeira vez era o Argel o treinador. O Felgueiras talvez seja a equipa que nós acabamos por não ter tanto conhecimento, até ao momento em que percebemos que íamos jogar contra eles e hoje em dia já sabemos tudo, como é óbvio. Faz parte da nossa preparação.

O sorteio ditou ainda que a UD Leiria começasse esta fase final em casa, diante do Alverca. Que importância tem o facto de começar esta fase em casa?
Em termos daquilo que é a preparação para cada jogo, a forma como nos preparamos para jogar, a forma como analisamos os adversários, não tem grande impacto jogar em casa ou fora. Nós encaramos os jogos todos da mesma forma. Não fazemos distinção de jogar em casa ou fora. Pode ter algum impacto psicológico em alguns momentos, mas não é algo impactante para nós. Torna-se impactante a partir do momento em que gostamos muito de jogar em casa. Estamos a sentir uma comunhão com os unionistas, estamos a sentir que há cada vez mais leirienses a tornarem-se unionistas fruto do trabalho que tem sido desenvolvido pelo clube, pela forma como a equipa também conseguiu bons resultados e boas exibições. Esperamos uma moldura humana ao nível daquelas que tivemos no início da época, senão mesmo superior. Nesse aspeto estamos muito satisfeitos. É um privilégio começar em casa, mas em termos práticos não tem assim grande impacto.

Numa fase final tão curta, com apenas seis jogos, é determinante começar bem para dar um impulso motivador que catapulte a equipa para o sucesso?
Sem dúvida que aquilo que vai acontecendo vai afetando mentalmente a equipa. Estaria a mentir se dissesse que tudo aquilo que é externo, ou seja, a motivação das pessoas, a forma como as pessoas mostram confiança, nos é indiferente. Acaba sempre por chegar [ao grupo]. Mas nós trabalhamos e treinamos para que, correndo as coisas bem, de repente não passemos a ser os maiores e já está tudo feito; ou correndo as coisas mal seja uma tragédia. Aquilo que vai ser determinante é chegarmos ao final dos seis jogos com mais pontos que os nossos adversários. Na prática, se esses pontos são conquistados nos últimos cinco jogos ou nos primeiros cinco é indiferente. É óbvio que trabalhar em cima de vitórias gera confiança e o insucesso ao nível dos resultados pode gerar alguma desconfiança, mas nós trabalhamos para que o foco não seja o resultado. Nós acreditamos que o resultado é uma consequência das nossas práticas. Quanto melhor competirmos e nos adaptarmos ao adversário, quando melhor conseguirmos ter armas para ultrapassar o adversário e conseguirmos pôr isto em campo nos vários momentos do jogo, mais próximos estamos que o resultado seja positivo. Sabemos que isto é futebol e muitas vezes chegamos ao final de um jogo em que fomos competentes, tivemos bem em vários momentos do jogo, mas por alguma razão acabámos por perder. E nós temos de ter a capacidade de perceber que isso não significa que tenhamos feito tudo mal. Há algo que nos guia que é este processo e sabemos que se esse processo for competente vamos estar mais vezes perto de conseguir um resultado positivo. Começar bem vai gerar confiança, começar mal vai gerar desconfiança, mas não vamos entrar em paranoia porque o que interessa é chegar ao final com mais pontos.

Na fase regular a UD Leiria acabou por fazer mais pontos fora de casa do que em casa. Isso tem alguma explicação? A equipa sente mais dificuldades quando o adversário adota uma estratégia mais conservadora a explorar as transições?
Não. Seja em casa ou fora, sentimos que em 90% dos jogos os adversários procuram esse tipo de estratégia. Focam-se muito em defender a baliza, entregar a iniciativa de jogo à UD Leiria e depois tentar explorar as transições e a bola parada. Acabou por termos mais pontos fora do que em casa, mas não creio que isso seja um fator determinante porque, no fundo, a UD Leiria aborda os jogos da mesma maneira, sabemos como queremos contrariar o nosso adversário, independentemente de jogarmos em casa ou fora.

Na fase final a UD Leiria vai defrontar adversários que vão adotar forma de jogar diferentes daquelas que a equipa encontrar na fase regular?
Eu não posso falar pelos outros treinadores, mas eu acredito que, quando nós construímos uma identidade e uma forma de jogar em que gostamos de ter bola – porque estamos mais longe de sofrer golo e estamos mais perto de os marcar – seria muito estranho alterar esses princípios de um momento para o outro só porque vamos jogar uma fase diferente. Sinceramente, não acredito que os adversários vão mudar muito daquilo que fazem em termos de princípios gerais em relação àquilo que fizeram até aqui. Depois, haverá o lado estratégico de cada jogo. Cabe-nos a nós sermos uma equipa extremamente completa, uma equipa com jogadores para jogar diferentes tipos de jogo, onde tenhamos a capacidade para contrariar vários tipos de adversário, quer tenha as linhas e o bloco mais baixo, quer seja uma equipa que nos pressione mais alto. Quanto mais completa for uma equipa, mais recursos tem e esse é um dos nosso pontos fortes.

Em termos estratégicos, a UD Leiria tem uma versatilidade muito grande, jogando na defesa com uma linha de três, outras vezes com uma linha de quatro. O que é que essa versatilidade pode aportar à equipa?
Aporta o facto de termos diferentes armas para defrontar diferentes adversários. O que é importante para nós é termos os nossos princípios: nós queremos ser uma equipa dominadora, com bola e ofensiva. Acreditamos que esses princípios podem ser conseguidos a construir com três jogadores, ou a construir com quatro jogadores com os laterais mais baixos, seja a construir com um médio ou dois médios. Há equipas em que nós sentimos que precisamos dos três centrais, que é mais uma linha de cinco que nos permite controlar melhor a largura do campo. Há momentos em que achamos que faz sentido ter dois jogadores a pressionar a construção do adversário outros em que faz sentido termos três. Aquilo que nós não mudamos são os princípios. Dificilmente vamos ver uma UD Leiria a jogar com um bloco muito baixo, a dar totalmente a iniciativa ao adversário, permitindo que se instale no nosso meio-campo, ou que faça ataques muito rápidos, num jogo muito direto porque, por norma, esses não são os nossos princípios. É tudo uma questão estratégica que é trabalhada diariamente porque, quem olha para a UD Leiria este ano, vê essa versatilidade.

Também foi possível ver que apostou sempre numa grande rotatividade dos jogadores. É uma forma de dizer que conta com todos?
Isso só acontece porque temos qualidade. Temos muitas soluções para as várias posições e isso é uma mais-valia. Em segundo lugar, basta ver o nosso histórico em anteriores projetos, para ver que raramente usamos o mesmo onze de jogo para jogo, porque eu não uso o mesmo sistema o que obriga forçosamente a fazer alterações em algumas peças. Logo aí existe a sensação de rotatividade, mas não é isso. Muitas vezes as pessoas não sabem que um jogador tem um ‘toque’ e que temos de o poupar, ou num outro momento sentimos que não vale a pena arriscar um jogador que só está a 50%. Para nós não existe rotatividade. Cada jogo é diferente e nós temos uma ideia para cada jogo que assenta em determinados princípios e depois acreditamos que determinadas peças fazem sentido estar ao serviço da equipa em função daquilo que é preciso. Por exemplo, na posição de extremo nós temos mais vezes o nosso ala a atuar por fora e o extremo a vir jogar por dentro, mas num determinado jogo eu sinto que posso tirar proveito do meu extremo por fora e aí o meu ala vai jogar por dentro. Isto não é rotatividade, é aquilo que nós acreditamos que nos vai levar ao sucesso dentro de cada jogo. Como treinador fico muito satisfeito por perceber que todos estão preparados para dar resposta, todos têm coisas para dar à equipa. Obviamente que as equipas e os jogadores vivem de momentos e nós treinadores também temos de saber gerir isso.

Ao Diário de Leiria, o ex-avançado da UD Leiria Cássio, que esteve ligado à última subida à I Liga, disse que mais do que a parte organizativa e estratégica, nestas fases o que mais conta é a força mental. Sente a sua equipa com essa força mental?
Sem dúvida. Estamos muito concentrados no nosso dia a dia. Não é por irmos jogar jogos mais ou menos decisivos que o nosso dia a dia vai mudar. Temos a nossa forma de trabalhar, acreditamos nela, os jogadores estão confiantes e acreditam nesse processo. É notório que tem dado frutos, obviamente com altos e baixos, mas até os momentos negativos que passámos esta época sentimos que são momentos importantes porque já disse muitas vezes que o insucesso é uma oportunidade de crescimento e aprendizagem. Passámos por situações de inferioridade numérica, por situações em que sofremos um golo no primeiro minuto, outras em que sofremos golo no último minuto, portanto tudo isso nos tornou mais capazes e mais fortes. Agora, temos muita ambição e muita vontade de ter sucesso porque identificamo-nos muito com o objetivo que o clube se propôs. É algo que nos obriga a jogar para ganhar, que nos obriga a perseguir o sucesso e este grupo partilha essa ambição. É um grupo de atletas com mentalidade vencedora, atletas que se identificam com a cidade e com o objetivo que o clube persegue. Acima de todo, há aquela ansiedade boa – que também faz parte -, para que chegue o momento de podermos mostrar o nosso valor.

Quem mensagem gostaria de deixar aos adeptos e que promessa pode fazer?
A primeira mensagem que gostaria de deixar é para os adeptos marcarem presença ao longo destes jogos. Não sendo tão fácil fora de casa, a verdade é que já deram provas que mesmo nessas circunstâncias conseguem estar presentes em grande número e muitas vezes fazem-se notar mais que os adeptos adversários. A segunda mensagem é que os adeptos da UD Leiria acreditem nesta equipa, que estejam confiantes que nós, enquanto grupo de trabalho e enquanto clube, tudo faremos para atingir o nosso objetivo, e que esse o apoio seja o mais constante e positivo possível ao longo desta fase. Se assim for, remando todos juntos na mesma direção, vamos conseguir chegar ao final e estarmos todos felizes por termos conseguido atingir o objetivo. Quero também dar um agradecimento muito grande [aos adeptos], porque efetivamente temos sentido esse apoio. Sabemos da responsabilidade que é vestir esta camisola e encaramos essa responsabilidade com ambição porque também acreditamos muito em nós próprios.|

Texto: José Roque – Diário de Leiria
Foto: Luís Filipe Coito