Foi campeão distrital pelo CA Ouriense e colocou pela primeira vez o clube de Santarém no CN Seniores. Contudo, um início de campeonato atribulado ditou a saída de Carlos Ribeiro. Em entrevista exclusiva, fomos conhecer os seus motivos…

 

Diário de Leiria – O que o levou a sair do CA Ouriense?

Carlos Ribeiro – O meu pedido de demissão nada teve haver com resultados, pois tinha a plena consciência de que as dificuldades iriam ser muitas, e que tendo em conta as nossas condições de trabalho, essas dificuldades iriam ser ainda maiores. Naturalmente que o facto de não termos um campo definido para treinar, de treinarmos muitas vezes apenas em meio campo, de sermos um plantel demasiado curto, de não ter tido a possibilidade de o reforçar como desejava, foram tudo situações que também ajudaram na decisão. Mas a principal razão, e a qual foi transmitida ao presidente, a quem aproveito para agradecer mais uma vez a oportunidade, foi o facto de não sentir apoio e confiança por parte de quem mais de perto vivia connosco. Para mim existem normas e princípios numa relação entre treinadores e directores que devem ser respeitados, pondo-se de parte todo o tipo de situações extra futebol que possam existir. Quando isso não acontece, o melhor é procurar-se uma solução e, no meu entender, foi a melhor para todos.

 

– É verdade que já tinha colocado o seu lugar à disposição antes do jogo contra o Caldas? Se sim, porque aceitar fazer mais um jogo?

– Sim, é verdade. Independentemente do resultado do jogo a minha decisão já estava tomada, era irreversível, e já havia sido transmitida à minha equipa técnica. Decidi fazer o jogo por respeito ao clube e aos jogadores, pois foi durante a semana, mais precisamente na quinta-feira que tive conhecimento de mais uma situação que levaria à minha decisão. Achei por bem e dado a importância do jogo continuar o trabalho, tentando dar estabilidade aos jogadores para que conseguissem estar preparados física e psicologicamente para a partida.

 

– O que correu mal na planificação da época para as coisas, desportivamente, não terem corrido da melhor maneira?

–  Foi um conjunto de factores que levou a este início de campeonato menos positivo. O facto de termos iniciado a preparação demasiado tarde em relação aos nossos adversários limitou-nos logo à partida na formação de um plantel mais competitivo, com mais soluções. Depois, o facto de não termos um espaço para treinar, de andarmos constantemente a mudar de espaços e pisos, de treinarmos apenas três vezes semanais, foi também uma enorme limitação. Acrescentando a estes aspectos, tivemos a infelicidade de ter em simultâneo lesões de quatro jogadores extremamente importantes na equipa, os casos do Miguel Neves, Zim, Rui Ferreira e Nelson Brites. Apesar de tudo, não considero que fosse um início de campeonato extremamente negativo, dado que dos seis jogos disputados, apenas dois foram realizados em casa. Destes jogos, para mim, apenas no jogo do Fátima não estivemos à altura e poderíamos ter feito um pouco mais.  Nas restantes partidas, penso que a equipa conseguiu deixar boas indicações, principalmente nas deslocações ao Alcanenense, Sertanense e Leiria, demonstrando que com mais trabalho e condições poderá tornar-se mais competitiva.

 

– Acredita que tinha qualidade no plantel para fazer um bom campeonato?

– A equipa tem jogadores de qualidade. No entanto, penso que alguns jogadores ainda não estão preparados para este tipo de competição, para este tipo de exigências, mas que com o decorrer da competição lá chegarão. A equipa necessitava de mais competitividade interna e não tanto de qualidade, pois ela existe. Enquanto treinador foi essa ideia que procurei transmitir, de que a equipa necessitaria de mais três, quatro jogadores. Para mim, um guarda-redes, um central e avançado, essencialmente. No entanto, não foi possível este reforçar do plantel na minha era, espero que o possa vir a ser para o meu colega, a quem aproveito também para desejar a maior sorte e que consiga alcançar os objectivos do clube. Acredito que a equipa o conseguirá!

 

– Quais os projectos para o futuro?

– Para já quero aproveitar para descansar, para usufruir da minha família, pois foram eles que se viram durante muito tempo privados da minha companhia, e reflectir sobre tudo o que foram estes seis anos como treinador de futebol sénior. Seis anos dos quais me orgulho, em que consegui alcançar feitos históricos por todos os clubes por onde passei, como foram os casos da subida de divisão pelo GRAP, a conquista do título de campeão distrital e um quinto lugar logo na primeira época na Divisão de Honra. Mais recentemente o título de campeão distrital e subida ao CNS pelo Ouriense e a conquista da Supertaça de Santarém. Como é natural, espero poder abraçar um novo projecto no futuro, no entanto, de momento não vivo obcecado com isso, penso que se tiver de surgir algo, surgirá com naturalidade.

Texto: José Roque – Diário de Leiria