Na sequência da participação feita à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pelo AC Marinhense contra a UD Leiria SAD, pela utilização de jogadores de forma irregular no jogo disputado entre estes dois clubes na época passada, a contar para o Campeonato de Portugal, a FPF, através do seu Conselho de Disciplina, decidiu, na passada sexta-feira, “julgar totalmente procedente a acusação deduzida contra a arguida UD Leiria SAD” e, nessa medida, condenou o clube leiriense a “dois jogos à porta fechada”, e a “uma multa de 3.417 euros”.
Segundo o acórdão do Conselho de Disciplina da FPF, a que o Diário de Leiria teve acesso, aquele organismo acusa ainda a UD Leiria de falsificação de documentos, nomeadamente de ter tentado adulterar o exame médico-
-desportivo de um jogador.
O caso remonta a 15 de Abril de 2018, quando o AC Marinhense e a UD Leiria se defrontaram no Campeonato de Portugal para a 29.ª jornada. Nesta altura da competição, a UD Leiria já tinha assegurado a presença no ‘play-off’ de subida de divisão, mas o emblema da Marinha Grande ainda lutava pela permanência. Apesar do resultado ter sido um empate (1-1), a direcção do Marinhense acusou o clube do Lis de ter jogado com um atleta ainda júnior, sem habilitação médico-desportiva para poder jogar num escalão acima.
A verdade é que três dias depois do jogo, foi colocada na plataforma Score – utilizada pelos clubes para inscrever jogadores – um novo exame médico-desportivo do jogador Renato Alexandre. Na sua defesa, a UD Leiria SAD argumenta que “o atleta em causa fez o exame médico adequado à sua utilização em escalão superior, facto que só por lapso não ficou a constar do impresso” original.
Contudo, o Conselho de Disciplina tem uma visão diferente dos factos, acusando a UD Leiria de ter “fabricado” e “adulterado” o exame médico–desportivo do atleta Renato Alexandre, agindo “de forma livre, consciente e voluntária, bem sabendo da natureza ilícita da sua conduta e com o propósito de ludibriar a Federação Portuguesa de Futebol, em violação da Lei e dos Regulamentos desta Federação”, pode ler-se no acórdão.
Para além disso, o Conselho de Disciplina refere que a UD Leiria violou os “princípios da ética, da defesa do espírito desportivo, da verdade desportiva, da lealdade e da probidade”, ao “desrespeitar o regime legal e regulamentar do exame médico-desportivo” que o clube “pretendeu intencionalmente contornar”.
Para além disso, o Conselho de Disciplina concluiu que a conduta da UDL “apresenta susceptível de preenchimento na modalidade de dolo directo”, “havendo conhecimento e vontade de realização do tipo objectivo de ilícito”.
“Ademais, afigura-se a referida conduta como culposa, juridicamente censurável por manifestamente indiferente e contrária aos valores protegidos pelo ordenamento jurídico-disciplinar. Atente-se que a conduta foi concretizada pela arguida com intenção de logro, de enganar a FPF e defraudar o regulamento, com vista a criar a aparência de regularidade na utilização do jogador (…)”, pode ler-se.
Tendo em conta “a gravidade” da conduta da UD Leiria e a existência de antecedentes disciplinares – o clube foi condenado na época desportiva 2017/2018 pela prática de 10 infracções disciplinares -, a FPF entendeu aplicar a derrota da UD Leiria nos jogos contra o AC Marinhense e o Águias do Moradal. Por força dos campeonatos já terem sido homologados, é aplicada a sanção de dois jogos à porta fechada, e uma multa de 3.417 euros.
Desde sexta-feira que a UD Leiria tem cinco dias úteis para pedir recurso para o Conselho de Justiça da FPF. Ao Diário de Leiria, a SAD unionista confirmou a notificação, mas diz não concordar com a mesma. “Estamos a estudar o passo seguinte”, vincou fonte da SAD da UD Leiria.
De acordo com esta decisão, o Marinhense já fez saber que, tendo sido “parte lesada desta questão”, e tendo-lhe sido dada razão neste processo, “irá proceder dentro dos limites legais à sequência do processo”, equacionando avançar com um pedido de indemnização de “largos milhares de euros”, disse fonte próxima do AC Marinhense. |

Texto: José Roque – Diário de Leiria
Foto: André Lucas/Arquivo